Camila estava no baile, sentia a música penetrar em sua alma... Tinha tristeza nos movimentos e uma audácia de mulher escondida nos olhos. Chega um bilhete, Camila abre, lê e tropeça nas palavras devido ao álcool já ingerido naquela noite: " Me lig-o-o, lig-a-a, aaaaaah, me liga!" , agora Camila entendera a intenção do recado, mas quem poderia ser? O número era desconhecido, assim como o rosto por detrás das palavras... Curiosa demais, Camila disca vagarosamente os números deixados no papel. Um toque. Dois toques. Três toques.
- Alô?
- Camila?
- Sim, sou eu, só um minuto, vou pra um lugar menos barulhento.
- Já pode ouvir melhor?
- Agora sim! Quem é que fala aí?
- Olha menina, não se perca, a vida está toda aí, não te acovardes agora!
- O quê? Mas quem é?
- Eu sei, posso sentir quando alguém veste carapuças para esconder-se dos medos e das responsabilidades, mas não terá jeito, o que será cobrado somente você pode pagar...
- Mas que diabos é isso? É uma ameaça?
- De forma alguma! Só quero teu bem, e acredito que fugindo de si mesma não irá curar sua dor ou desaparecer com os problemas ao fim da noite. Sei o que você está passando.
Camila boquiaberta pensa em como essa voz do outro lado da linha sabia que sua vida andava de cabeça para baixo. Problemas com os pais ausentes, sem emprego, sem dinheiro, sem amigos, sem esperanças. Aquela pessoa percebe um soluço de choro vindo de Camila.
- Chore menina, chore... Lave essa alma das mágoas, escorra por entre os olhos os pesos que te acorrentam, mas amanhã, acorde purificada, livre das inseguranças. Suas asas estão aí, abra-as e alce voo para algum lugar onde você encontre força, seja no mar, nas montanhas ou nos braços de alguém, ela estará em algum lugar! Quando a névoa que cobre teus olhos se for, perceberás o brilho da vida bem diante de ti novamente, só basta acreditar, ter forças e respirar fundo.
- Me diga quem é!
Camila já não obtém respostas. Saiu da boate, caminhou pela última vez sem rumo, pois decidira não mais temer, iria para onde sentisse que deveria ir.
Nunca soube de onde viera aquele bilhete, aquele número e aquela voz. Hoje em dia, torce para que todos os que precisem possam receber uma ligação assim. Camila não gosta de denominar as coisas ou de deixá-las 'padronizadas', mas acredita que recebeu uma dádiva e agradece todos os dias aos céus pela voz que a despertou para a vida de novo.